domingo, 20 de maio de 2018

CRÔNICAS RUSSAS (3) - São Petersburgo: Hermitage, Catarina, Leningrado e balé

Hermitage à direita, cúpula da Igreja de Santo Isaac ao fundo

 No sábado, dia 16/09, saímos para a tão esperada visita ao Museu Nacional do Hermitage (Государственный Эрмитаж). Muitos turistas, centenas. Para conseguir entrar, algum aperto, mesmo já com os ingressos na mão. Ainda mais que o controle de segurança na porta é rígido. Compreensível. Conhecer o Hermitage, com a devida atenção, demanda vários dias, mas, se só temos algumas horas, vamos lá, câmeras à mão, mas, principalmente, olhos bem atentos!


Coluna de Alexander na Praça do Palácio, defronte ao Hermitage. Cúpula da Santo Isaac ao fundo.







De uma janela do Hermitage





Giovanni Biliverti (1576-1644)






O acervo é realmente impressionante, inclusive com obras de mestres como Leonardo da Vinci. E pensar que há ainda centenas ou milhares de peças que ficam na reserva, aliás, uma área onde mandam os gatos do Hermitage, com a importante missão de proteger as relíquias dos ratos. São “funcionários”, muito bem cuidados e, quando ficam velhinhos para o trabalho, nos conta a guia Natasha, são postos para adoção. Infelizmente, não os vi. Evidentemente, os bichanos ficam longe das hordas de turistas.
   
Leonardo da Vinci (1452-1519) - Madonna e o menino












Detalhe do piso


Sarcófago de Nana, sacerdote do deus Ptah - século 13 a.C. - Região de Memphis
  



Por 550 rublos almocei na lanchonete do Museu. Na verdade um lanche, mas bem satisfatório. Passei também pela lojinha para garantir algumas lembrancinhas. Há artigos para todos os bolsos, desde espelhinhos com imagem dos gatos, a sacolas e livros de arte.

O sábado foi intenso. À tarde seguimos para o Palácio de Catarina (Екатерининский дворец), a 25 km de Peter (sim, já estou íntima), na localidade chamada Tsarskoye Selo (Царском Селе), também nomeada Pushkin, em homenagem ao poeta Alexander Pushkin. A chuva caiu forte em vários momentos e novamente tivemos de encarar um povaréu, composto basicamente de chineses, para entrar no palácio azul






Lembranças da guerra, sempre presentes. Proximidades do Palácio de Catarina

A história de Catarina II - também chamada Catarina, a Grande, mulher de Pedro III - é apimentada e Natasha não aliviou a imagem da poderosa. Colecionadora de amantes, ousada e ambiciosa, ela reuniu inúmeras obras de arte, presenteou seus amores, promoveu guerras expansionistas, modernizou o Império Russo, concedeu mais privilégios aos nobres e senhores de terras em detrimento dos camponeses e dos pobres. Reinou de meados até fins do século XVIII. 

 














Apreciando a engenhosidade humana, sua capacidade de criar objetos tão encantadores aos sentidos, e conhecendo um pouco da História, vem à mente os milhares de pessoas com suas vidas miseráveis, não raro sucumbindo à fome e ao frio. Páginas que se repetem em inúmeras histórias de inúmeras nações. Reconforta um pouco ver que hoje todo este acervo pertence ao patrimônio da nação e está ao alcance dos olhos de pessoas de qualquer parte do mundo. Aliás, o centro histórico de São Petersburgo e seus monumentos são classificados como Patrimônio Mundial, pela UNESCO.

Entre muitos salões, obras de arte, mobiliário, há a Sala de Âmbar (que não pode ser fotografada pelos visitantes), cuja curiosa história envolve ostentação, a barbárie da guerra e mistério. A câmara que vemos hoje seria uma réplica da original. Impressiona, sem dúvida, mas eu não a incluiria entre as maiores belezas que vi por lá. Achei, digamos, “cafona”, com todo aquele brilho. Se não fosse feita de preciosidades, talvez coubesse dizer que é “kitsch”. 

Sala ou Câmara de Âmbar (foto da internet)


Durante a Guerra Patriótica (II Guerra Mundial), com o cerco nazista à cidade de Leningrado (hoje São Petersburgo), o Palácio de Catarina foi saqueado e quase totalmente destruído pelos alemães. O trabalho de recuperação, décadas depois, foi longo e minucioso, feito em grande parte por mulheres.




Além da beleza do interior do palácio, os jardins também são de encher os olhos, pela amplidão, geometria, harmonia de cores e formas. Se a chuva atrapalhou, inclusive a fotografar, também nos deu um arco-íris que parecia ser parte mesmo da paisagem.













No trajeto para Tsarskoie Selo pudemos ver modernidades da Rússia pós-soviética, como amplas rodovias, um complexo empresarial. Sempre presente na história da Grande Rússia, as memórias da guerra estão nas colinas que vemos ao longe. Lá os nazistas fincaram sua base durante o cerco a Leningrado e dali vigiavam a cidade, enviando aviões para bombardeá-la diariamente. A cidade ficou sitiada por quase 900 dias e mais de 1 milhão de pessoas morreram, principalmente por falta de aquecimento e comida, sob um inverno dos mais rigorosos. Impossível não sentir um aperto no coração. 







A jornada do sábado ainda não tinha terminado. À noite, lá fomos nós para O Lago dos Cisnes, no Teatro de Comédia Musical (Tеатр Mузыкальной Kомедии). O teatro não chega a ser suntuoso, na verdade me pareceu estar precisando de alguma manutenção, o que não significa que tivemos algum problema ou desconforto. A companhia de balé, para alguém que admira esta arte, mas não é especialista, me pareceu de alto nível.  

Plateia do Teatro de Comédia Musical (foto da internet)

Ainda que um belo espetáculo, o cansaço da maratona do dia (e dos dias anteriores) e a longa duração da apresentação, tornaram a experiência um tanto difícil. E ainda tinha a fome, pois a noite ia avançada. De volta ao hotel, onde o restaurante já estava fechado, saí em busca de comida e, se possível, companhia. Encontrei dois casais de nosso grupo no restaurante da esquina, o Cчастье (Chástie = Felicidade). Juntei-me a eles e pedimos estrogonofe. Bem diferente do nosso, mas com a fome devastadora, foi mesmo um momento que fez jus ao nome da casa.
  






Mais sobre os gatos do Hermitage: https://www.youtube.com/watch?v=db_Cqxlb7Yg
 

Foto teatro: http://www.bileti-v-teatr.ru/teatri-spb/teatr-muzyikalnoy-komedii.html