quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SETE DIAS EM LISBOA (3): Azulejos e Baixa-Chiado




4º dia: Seguindo a indicação da recepcionista do hotel, fui procurar o tal adaptador de tomada no El Corte Inglés, loja bacana, que fica mais ou menos perto do Fenix Urban. O preço (quase 20 euros) me desanimou, ainda que fosse uma peça tipo mil e uma utilidades, que serve para qualquer tomada no planeta e talvez fora dele (eu já tinha comprado um em Lima, por 19 dólares, como contei numa das crônicas peruanas).

Decidi apostar na dica da simpática moça do restaurante do hotel e fui à cata de uma loja de chineses (sempre eles!) perto da estação Saldanha. Achei que, ao sair da estação, daria de cara com uma daquelas lojas típicas de quinquilharias. Mas, que nada! A região tem avenidas largas, muitas ruas transversais e lojas. Perguntei aqui e ali, mas ninguém sabia e quando consegui uma indicação, me apontaram uma loja com roupas na vitrine. Já sentindo a frustração nos meus calcanhares, resolvi conferir e encontrei enfim o que procurava: um adaptador (que eles chamam de ficha) básico, mas suficiente para minhas necessidades, por módicos 95 centavos de Euro. Não me deixou na mão durante o resto da viagem.

Como a fome já batia à porta do estômago e o sol estava, como sempre, quente, resolvi almoçar antes de prosseguir no meu roteiro. Meio desconfiada dos preços nos restaurantes da área, me deparo com uma placa: picanha, arroz e feijão. Não tanto pela picanha, mas a dupla feijão-com-arroz me seduziu. Era o restaurante O Visconde, onde, por onze euros, almocei uma comidinha decente, tomei suco e comi sobremesa, servida com boa vontade e simpatia (itens que nem sempre encontramos, tanto aqui como lá).


Revigorada e bendizendo o metrô que tudo facilita, rumei para a estação Santa Apolónia, a última da linha azul, para chegar ao Museu Nacional do Azulejo. Pela indicação do site, ali poderia pegar um ônibus (autocarro) até o Museu. Perguntar me salvou muitas vezes, mas desta vez não foi uma boa opção. Um motorista de outra linha que encontrei logo à saída do metrô me disse que poderia ir a pé, cortando caminho por uma ponte. Boa intenção ele teve, mas a tal ponte, que eu só visualizei bem depois, era um viaduto que subi cozinhando sob um sol escaldante, ônibus e carros passando ao lado. E ainda andei um bom pedaço até chegar ao destino. Mas cheguei! O bonito jardim da entrada renovou meu ânimo!





  


O Museu continua fantástico, um acervo de encher os olhos e a imaginação. É uma visita obrigatória para quem vai a Lisboa e admira esta arte, que se confunde com a identidade de Portugal há cinco séculos. Tanto o edifício que o abriga como as peças são belíssimas. Flanei pelos corredores sem me preocupar em fazer muitas fotos, pois já tinha várias da viagem anterior. 
 









Frontal de altar com brasão de armas das Carmelitas Descalças - 1650-1675



Verónica - Lisboa 1730-1750







Fuga para o Egito - Lisboa, 1730



Painel de azulejo com Cordeiro Pascal - 1630-1671




Telhas de beiral - 1860-1890


Azulejos holandeses com cercadura portuguesa - 1700



Pode-se visitar também uma capela, ricamente adornada em ouro, e passar pelas lápides de nobres e religiosas.










Pareceu-me que o Museu está em fase de restauração, já que o jardim interno estava sem flores e quase sem verde - apesar de estarmos no verão - e havia muitas caixas e outros objetos amontoados nos corredores externos.


Assim estava o jardim interno no inverno de 2007



 O Museu abriga também obras de azulejaria mais modernas e ainda um extenso painel de azulejos retratando Lisboa de antes do terremoto de 1755, que destruiu quase toda a cidade. 




Fernando Pessoa por Júlio Pomar para a Estação Alto dos Moinhos, Lisboa (1926)

A ceifa - Lisboa, 1920

Lisbonne aux mille couleurs - Paolo Ferreira, 1937







Escolada pela cansativa ida, voltei no ônibus 794 que, conforme indica o site do museu, passa bem pertinho. Embarcaram comigo duas brasileiras que moram na Califórnia. Estavam apreensivas pelo furacão Norma que andava por lá. Uma delas fez a gentileza de me clicar no portão do Museu. Um dos problemas de viajar sozinha é encontrar alguém que reúna boa vontade e alguma noção para tirar fotos básicas. Às vezes damos sorte.



Um dia cansativo, mas também bem proveitoso. Programa para amanhã: almoçar com o amigo Artur Malheiro e explorar a Baixa-Chiado.


5º dia: Marquei com o amigo Artur na bela estação de comboios do Rossio, “aquela em estilo manoelino” observou ele, superestimando meus conhecimentos da arquitetura lusitana quinhentista. Bem, eu tinha uma ideia do que seria e da localização, e não foi difícil encontrá-la. Na verdade a estação não é tão antiga, foi inaugurada em 1890, seguindo o estilo neomanoelino. E é mesmo imponente a estação D. Sebastião, ainda que a estátua do jovem rei, desaparecido há 439 anos numa batalha, ainda não tenha voltado a seu nicho na fachada (veja matéria aqui).
 

Almoçamos um bacalhau numa tasca bem típica, escondidinha numa viela ali perto, enquanto botávamos as conversas em dia. Meu gentil amigo levou-me para conhecer alguns segredinhos da cidade, ladeiras acima e abaixo e pude também relembrar os recantos que conhecera na viagem de 2007. Estivemos no mirante, ou Miradouro de São Pedro de Alcântara (a visita ficou prejudicada, pois havia obras no local) e em outro nos fundos do Museu do Carmo. Uma das descobertas foi a Manteigaria, onde se come um delicioso pastel de nata – disputadíssimo pelas hordas de turistas – por apenas 1 euro. Vale a pena o aperto no espremidinho espaço da loja. E ainda descobri um cinema na calçada em frente.


Miradouro São Pedro de Alcantara

Museu Arqueológico do Carmo visto do Mirante junto ao elevador
 



Pude enfim reencontrar Pessoa, sentado à porta do café À Brasileira, sempre cercado de gente querendo uma foto com ele. O bronze da estátua ardia ao sol e eu mal pude tocar o poeta. Enfim uma foto minha bacana, tirada pelo gentil Artur, com o capricho que o momento pedia.


 Descemos por ladeiras e vielas até a bela Rua Augusta, cruzamos o pórtico majestoso que dá acesso ao Terreiro do Paço. É um espaço que impressiona, com bonitas arcadas e uma vista magnífica do Tejo. 











O amigo, agora mais português que brasileiro, teve de ir-se. Despedimo-nos sem que tivéssemos tirado uma foto juntos. Grave pecado. Eu continuei por ali, explorando as redondezas. Como, além de comer pastel de nata, por vezes a gente tem também necessidade de fazer xixi, fui procurar o banheiro que o Artur me disse ter por ali, todo modernoso. E é mesmo, a começar pelo colorido do papel higiênico. É quase um lounge.  “O WC mais sexy do mundo”, está no TripAdvisor. Custa 1 euro. 



Como o dia de ir embora se aproximava, fui à cata de uma casa de câmbio para reforçar o caixa em euros. Tinha notas de reais, que provavelmente teria dificuldade em trocar nos países para onde ia. Achei uma casa, meio escondidinha, perto do Teatro D.Maria, e troquei meus 800 reais por 193,60 euros. A taxa não foi das melhores, mas bem mais favorável do que a oferecida no hotel. Amanhã vou visitar Saramago e o que mais o calor, meus pés e meus euros permitirem.