sexta-feira, 7 de outubro de 2016

ARQUITETOS E URBANISTAS DEBATEM COM A SOCIEDADE A CIDADE INCLUSIVA



O crescimento desordenado das metrópoles – e o que vem a reboque, como poluição, engarrafamentos, estresse, violência, remoções – vem expondo, cada vez mais, a necessidade de reflexão e aprofundamento das discussões sobre o modo como o espaço urbano é ocupado.

O 5º Encontro com a Sociedade, promovido pelo CAU-Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, no sábado 24/09, deve, assim, ser saudado como uma iniciativa muito bem vinda por aproximar profissionais e a sociedade civil, por permitir o diálogo entre a posição de gestores públicos e a experiência cotidiana de quem vive a cidade onde os problemas são mais agudos. O encontro fez parte da II Conferência Estadual da classe.

Sob a coordenação dos dirigentes do CAU, as mesas de abertura e debates reuniram representantes de diversas instituições e movimentos como a Pastoral das Favelas, o Observatório das Metrópoles, a Empresa Olímpica Municipal,  o coletivo de moradores Rocinha sem Fronteiras, entre outros.

A urgência de uma cidade mais justa, que não mais reproduza modelos de exclusão, deu o tom do encontro. O presidente do CAU, Jerônimo de Moraes Neto, e Pedro da Luz, Presidente do IAB - Instituto dos Arquitetos do Brasil, enfatizaram a necessidade de governantes e técnicos ouvirem a sociedade e da elaboração de projetos completos, com foco numa cidade inclusiva. Edvaldo Souza Cabral, Presidente do SARJ-Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio de Janeiro, reforçou a prioridade do planejamento cuidadoso e da participação da coletividade, o que leva a custos menores e garante mais acertos na realização de obras públicas.

“As Olimpíadas acabaram, e agora?” Esta pergunta orientou a mesa sobre o legado das obras na cidade e a nova agenda urbana. O Coordenador Executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, que foi o mediador, ressaltou a prioridade de se pensar a cidade como Região Metropolitana, um universo de 12 milhões de habitantes. As desigualdades existentes na cidade do Rio, destacou ele, se acirram na Zona Oeste e na Baixada Fluminense. A descentralização dos investimentos com geração de empregos, bem como a despoluição da Baía de Guanabara, também foram citadas por Henrique Silveira durante o debate.

Marcelo Neri, economista, Diretor do FGV Social, disse que o índice de desigualdade no Rio de Janeiro é maior do que o índice do país como um todo e que esta disparidade aumentou nas últimas décadas. E observou que os ganhos com os Jogos Olímpicos têm efeitos passageiros, ou seja, não são garantia de avanços estruturais, de longo prazo.

O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Toledo, que chefiou a equipe de urbanização da Rocinha entre 2005 e 2007, relatou como montaram um escritório dentro da favela e viveram o cotidiano de quem mora ali. Numa dinâmica de troca, Toledo impulsionou a capacitação profissional de jovens locais, que atuavam junto com estagiários qualificados da UFRJ. O processo de urbanização, dentro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deveria ter ido adiante, mas não foi concluído até hoje, lamentou o arquiteto. Obras de saneamento básico, por exemplo, prioridade indiscutível, são ainda hoje uma reivindicação dos moradores que questionam a aplicação dos investimentos na construção de um teleférico.

As cidades fascinam e atemorizam os homens há tempos, como nos contos de Ítalo Calvino. Ainda no século XIX o sociólogo alemão Georg Simmel escrevia sobre a complexidade da vida urbana e as relações dos indivíduos com a dinâmica nervosa (imagina hoje!) das cidades. Jerônimo de Moraes Neto (CAU) lembrou que a cidade é uma das maiores invenções do homem, pois é o espaço onde se encontram.

A ideia de cidade que abriga “espaços de encontro”, que aproxima e não segrega as pessoas, como propôs Jane Jacobs, ou a de “Cidades para pessoas”, de Ian Gehl, vêm como um sopro de vitalidade e renovação que pode se materializar com ações bem planejadas, com projetos urbanísticos atentos à realidade social e com a participação da coletividade.


Detalhes sobre o que foi discutido nas mesas do 5º Encontro podem ser conferidos no site do IAB: http://www.iabrj.org.br/ii-conferencia-e-5%c2%ba-encontro-promovem-debate-sobre-habitacao-social-e-legado-das-olimpiadas