sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sala Escura: INDOMÁVEL SONHADORA



 

Não apenas a pequena e talentosa Quvenzhané Wallis surpreende, como todo o filme de Benh Zeitlin foge ao lugar comum. Isso não é necessariamente um elogio, já que o longa tem lá seus tropeços, mas é sem dúvida uma abordagem audaciosa de um tema que normalmente transita entre momentos doces e momentos lacrimejantes.

A menina Hushpuppy vive numa espécie de gueto aquático, cercada de adultos que temperam com muito álcool seu discurso ambientalista e anti-consumismo. Tal como as marolas do alagado onde vivem – conhecido como a “Banheira” - os personagens oscilam entre homéricas bebedeiras e a defesa de um estilo de vida, digamos, natural, uma volta do homem ao estado primitivo, longe da comida pronta dos supermercados.

A sutileza da relação da garota com os bichos – escutando seu coração e reconhecendo-se também como um animal – choca-se com o ambiente onde vive, onde reina o caos e a imundície. Sim, este não é um filme para estômagos delicados. Gera um desconforto que por vezes até dificulta manter os olhos na tela.

Hushpuppy não tem poucas adversidades a enfrentar: além do derretimento das calotas polares, há o pai doente e alcoólatra (Dwight Henry), a ausência da mãe, a necessidade de ser adulta antes do tempo, num mundo onde não há lugar para sentimentalismos nem lágrimas. Uma dureza aparente, como uma couraça, para suportar os golpes da vida e se defender inclusive de si própria.



Indomável Sonhadora, em diferentes momentos, lembrou-me, Distrito 9 (Neill Blomkamp, 2009), com seus seres fantásticos, sua favela e as manobras para desocupação, e A árvore da vida (Terrence Malick, 2011), por enveredar numa espiral onde homem e natureza se entrelaçam.

Sem trocadilhos, o jovem diretor poderia ter feito um filme mais enxuto, com menos câmera na mão e roteiro mais redondo, mas sem dúvida é um filme que se destaca na recente produção norte-americana.


INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of the Southern Wild)

EUA, 2012, 93 min

Direção: Benh Zeittin

Roteiro: Lucy Alibar, Benh Zeitlin (baseado na peça Juicy and Delicious, de Alibar)




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