sábado, 19 de janeiro de 2013

Sala Escura: PARIS-MANHATTAN




SÓ WOODY ALLEN SALVA
  
Fui assistir a Paris-Manhattan com o maior entusiasmo. Com uma personagem que adora cinema e, mais ainda, o cinema de Woody Allen, só podia ser uma história muito interessante. E é. O problema é o modo como esta interessante história é contada: uma estrada cheia de buracos. Sacode pra cá, sacode pra lá, e a gente não tem um ritmo que garanta uma satisfatória fruição do filme. Temos apenas pedaços.

Os momentos fofos, simpáticos devem-se especialmente ao ótimo Patrick Bruel, como Victor, um especialista em segurança e potencial amor de Alice (Alice Taglioni) e ao pai da moça (Michel Aumont), em seu afã para conseguir um marido para a filha. A farmacêutica Alice não pensa em se casar, mas tem um relacionamento, que nunca fica muito claro, o sujeito aparece e some sem dizer a que veio. Para uma fã dos filmes de Allen, há uma boa dose de contradição nessa moça que parece não acreditar nas relações amorosas. Na verdade, a personagem não é bem construída, por mais que deva nos aparecer como alguém descomplicado: uma menina mimada, que não quer crescer, como tantas por aí

Há ótimas situações que são mal aproveitadas, como as “prescrições” de filmes do diretor norte-americano para os clientes de sua farmácia. Falta à atriz – ou à direção – mais expressividade. E, sobre a relação de Alice com o pôster de Allen, agarrado à parede de seu quarto, temos um parâmetro bem apropriado no filme À procura de Eric, de Ken Loach (no filme de Loach, o objeto de adoração do fracassado Eric é seu xará,  o jogador de futebol Eric Cantona, ídolo do Manchester United,, nos anos 1990). Tudo bem, ser Ken Loach não é para qualquer um e Sophie Lellouche é uma estreante em longas (não há na rede muitas informações sobre sua biografia).

Bem, antes que me joguem ovos podres virtuais – algumas amigas amaram o filme – devo dizer que ele até vale a pena, exatamente pelos momentos em que consegue passar alguma graça e frescor. As sequências finais, por exemplo, são um respiro no marasmo de quase a totalidade da película. E tem Woody Allen, a pitada salvadora. Sem ele, talvez Sophie Lellouche continuasse a ser uma ilustre desconhecida entre nós.

Uma palavra que anotei no meu bloquinho, no escuro da sala de cinema (garranchos a serem decifrados depois), foi “vacilante”. Lendo a crítica de Susana Schild, na revista RioShow, de O Globo, vejo que ela usa o mesmo adjetivo. Ele, a meu ver, define bem o filme de Lellouche. Vacila, não engrena. Cai bem numa sessão da tarde sonolenta, embalando, entre uma espiada e outra à TV, um cochilo no sofá.



PARIS-MANHATTAN (Paris-Manhattan)
Direção e roteiro: Sophie Lellouche
França, 2012, 77 min