quarta-feira, 23 de março de 2011

Sala Escura: SEM LIMITES



O DIRETOR TOMOU ALGUMAS PÍLULAS A MAIS

Antes de mais nada tenho de pedir perdão a Orson Welles porque as cenas iniciais do filme de Neil Burger – com sua câmera vertiginosa percorrendo a cidade, atravessando os carros - me evocaram A Marca da Maldade (Touch of Evil, 1958). A sequência inicial do filme de Welles tem outro ritmo, mas parte de um ponto e evolui para uma panorâmica, seguindo um carro que carrega uma bomba. O espectador é capturado neste percurso e acende nele a expectativa – otimista - do que está por vir.

Bem, no caso de Sem Limites o papo é outro. Claro que não se espera que surjam a cada esquina novos Orson Welles, mas o filme de Burger comete um dos piores pecados: prometer e não cumprir. O envolvimento do espectador, embalado pela música frenética e pelos espertos efeitos visuais, vai aos poucos se transformando em tédio, sacudido por alguns lampejos de criatividade que logo se apagam.

A história: um escritor em crise de criatividade, e com sua vida descendo ladeira abaixo, encontra sua redenção em pílulas milagrosas que ampliam exponencialmente a capacidade de seu cérebro. Seu problema com a editora está resolvido, mas logo sua ambição o levará a buscar mais e mais conhecimentos que lhe garantam dinheiro e poder. O desacreditado escritor ativa uma memória prodigiosa, recupera fatos esquecidos, transforma-se num ás do jogo, num expert do mercado financeiro, num estrategista capaz de articular a fusão de impérios econômicos. Tudo isso em várias línguas, que ele fala fluentemente, e temperado com amor e sexo (ponto a favor: pelo menos nessas cenas não há os exageros das cenas de ação).

Baseado no livro The Dark Fields, de Alan Glynn, o roteiro se insinua pela denúncia contra a falta de ética na indústria farmacêutica, a corrupção na política, o tráfico de drogas e seus tentáculos. Ou ainda por temas mais subjetivos, como o confronto contemporâneo do homem em face da avalanche de informação que lhe chega graças às novas tecnologias. Dominar a informação é garantia de poder e nosso escritor não hesitará em cruzar fronteiras perigosas para alcançar este domínio. Mas vender a alma ao diabo tem seu custo, isso Goethe já sabia nos 1800, quando escreveu Fausto. Assim, há um preço a pagar e gente disposta a tudo para ter as “smart pills”, desde grandes executivos a agiotas com sotaque do leste europeu, irão a seu encalço, vestidos e armados para matar.

Quando se pensa que a trama está caminhando para um desfecho inteligente, o roteiro (assinado por Leslie Dixon) escorrega e nosso personagem se traveste num super-herói pouco crível e sem noção de que causa afinal está defendendo. Burger errou na dose, teve uma indigestão de pílulas milagrosas, deu um nó em seus neurônios e em vez de um filme enxuto, direto, criou um amontoado de situações que se sucedem em altos e baixos, deixando um vazio ao final. Um de Niro desperdiçado...

SEM LIMITES (Limitless) – EUA, 2011 – 105min
Direção: Neil Burger
Elenco: Bradley Cooper, Robert de Niro
Estreia prevista: 25/03/11
Site Imagem Filmes:


segunda-feira, 14 de março de 2011

VIAGENS: AO SUL DA AMÉRICA DO SUL (1)


Quando viajamos e a viagem é uma experiência forte, parece que, ao retornarmos, nosso corpo chega em casa antes de nossa alma. Assim me senti ao voltar de curtas, mas intensas, férias. Retoma-se a rotina, dorme-se na própria cama, volta-se ao cotidiano, mas alguma parte de nós permanece distante.


Num roteiro talvez não tão comum, como os circuitos (lindos, sem dúvida) praias do Nordeste, serras gaúchas, chapadas, estive em contato com diferentes grandezas, seja da natureza, seja da história das Américas.



Em Foz do Iguaçu (Paraná), o Parque Nacional e, dentro dele, as cataratas do Iguaçu mostram porque são patrimônio natural da Humanidade. Na outra margem do rio, o lado argentino também oferece suas maravilhas. Chegar pertinho da Garganta del Diablo não é coisa que se esqueça.



O lugar pede mais dias, para se poder aproveitar bem as belezuras, o ar puro, as atrações (mais ou menos radicais, conforme o gosto do freguês), o contato com forças tão impressionantes da natureza. Coincidência trágica, o terremoto/tusunami no Japão mostrou há dois dias o poder devastador das águas. Já as cataratas nos emudecem de beleza.

Completamente encharcada (dispensamos as capas plásticas), senti-me revigorada por aquelas águas, que caem com estrondo incessante, adornadas por arco-íris que se formam na poeira de milhões de gotículas.

No Parque das Aves, um momento de tranqüilidade, alamedas cheias de árvores e flores, viveiros que nos permitem chegar bem pertinho de pássaros, como tucanos e beija-flores. E muitas borboletas, o tempo todo borboleteando à nossa volta.

A viagem seguiu, rumo às Missões, página obscura da História, que guarda, como a própria vida, beleza e dor.
As agências de viagens do Rio de Janeiro, até onde sei, desconhecem este roteiro fascinante. Graças a São Google, encontrei a Missões Turismo, em São Miguel das Missões (RS), que nos levou por essa viagem de encantamento.