quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

FIM E RECOMEÇO

Para o Natal, que não faltem a doçura, o abraço fraterno, um brilho nos olhos de criança, tenha a idade que tiver.

Para 2009, uma reflexão: para o ano ser realmente novo será preciso resgatar o que é antigo, voltar no tempo, rebobinar a fita, retroceder a corda do relógio, a uma época em que o Homem se integrava com a Natureza, quando antigos saberes eram preciosos. Um tempo de mais cordialidade e menos competição, de mais simplicidade.

Que em 2009 tenhamos o olhar mais atento para as pequenas alegrias, os pequenos milagres que acontecem a cada dia, e menos para as bugigangas nas vitrines - todas aquelas coisas de que não precisamos para sermos felizes, como diz Frei Betto (evocando Sócrates, o filósofo, não o jogador de futebol...).

E com muito bom humor! Sem ele, não há salvação.

(foto: brotos da árvore-mãe)


PS: Chega pela internet um texto de Clarice Lispector, presente da amiga Jussara Câmara.

Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só setem uma chance de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade....

sábado, 13 de dezembro de 2008

O HOMEM QUE REINVENTOU, NAS TELAS, A LITERATURA



 Por Vidas Secas, o cineasta Nelson Pereira dos Santos já seria imortal. Mas ele foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em março de 2006 e, assim, virou imortal na casa de Machado também. Nada mais justo! Nelson adaptou para o cinema várias obras literárias, transpondo para telas a vida impressa, latente, nos livros, transformando palavras em imagens. No dia 1º, a ABL fez uma homenagem ao mestre do cinema, por seus 80 anos, completados em outubro.

Amor à primeira vista, assim Cícero Sandroni, Presidente da casa, definiu a relação de Nelson com a ABL. A seu lado, Cacá Diegues, bastante emocionado (aliás, todos estavam) exaltou o homenageado não apenas pelo que ele fez, mas pelo que ele fez os outros fazerem. Cacá voltou a seus 15 anos, a um ato de protesto do movimento estudantil, durante o qual foi exibido Rio 40 Graus. O filme havia sido vetado pelo chefe de polícia porque “no Rio nem faz 40 graus”. Foi uma experiência marcante, era o contato com o Brasil real, disse ele.

Cacá Diegues contou ainda como NPS exercia um misto de compaixão e complacência aos assistir aos curtas que ele e outros aspirantes a cineasta faziam e levavam para o mestre avaliar. Para Cacá, a importância de Nelson no cinema nacional é tamanha, que, desde Rio 40 Graus, não se faz no Brasil um fotograma sequer sem que Nelson esteja presente nele.

“Cinema é o verdadeiro elixir da longa vida”, declarou Luiz Carlos Barreto. Para ele, Nelson é um alquimista e feiticeiro, que lida com o racional e o emocional de modo único. Contou que, sem jamais ter operado uma câmera, foi designado por NPS para ser o diretor de fotografia de Vidas Secas e lembrou a cena em que a cachorra Baleia é morta. A cena ficou tão real que rendeu protestos de entidades defensoras dos animais, em Cannes, onde o filme foi exibido. Para LCB, o projeto de Nelson sempre foi o cinema brasileiro, e não seu prestígio pessoal.

Walter Salles não é apenas um belo homem, bom de se ver, é também um prazer ouvi-lo. Para falar de NPS, Walter evocou o escritor argentino Jorge Luis Borges (não sei se era ao poema abaixo que ele se referia, mas pode ser...), dizendo que, no cinema nacional, Nelson deu nome ao que não havia sido ainda nomeado. Ele afirmou que, depois de Rio 40 Graus, nada seria como antes na cultura brasileira. “Ele incorporou o não dito [...] abrindo janelas [...] e revelando a identidade brasileira.” WS lembrou que o processo de florescimento das artes no Brasil foi interrompido em 1964/68. Citou o livro O Chão da Palavra - em que José Carlos Avellar esmiúça a relação do cinema com a literatura, que teria inventado o cinema para que este pudesse reinventá-la -, dizendo que NPS vai mais além.

Sobre a dificuldade de transpor para o cinema obras literárias, Walter Salles contou a historinha dos 2 ratinhos que, numa cinemateca, roíam um rolo de filme. Até que um vira para o outro e diz: “O livro era muito melhor”. Muito boa!

Disse ainda que NPS soube falar de todos os cárceres que herdamos (numa referência a Memórias do Cárcere, livro de Graciliano Ramos, filme de NPS). E ressaltou o lado humanista do cineasta, lembrando seus documentários. Só fez uma “reclamação”: por conta do chá das 5 da Academia, Nelson não aparece mais na produtora de Walter. “Mas pelo menos se sabe que ele agora é imortal”, concluiu.

Com a alegria de um garoto, Sandroni contou que, com o cineclube criado por Nelson na ABL, eles voltaram à juventude, ao tempo de cineclubistas.
Foi uma cerimônia bonita, alegre, emocionada, descontraída. Coroada com a exibição de Rio 40 Graus. Nelson Pereira dos Santos merece tudo isso e o que mais vier de homenagens a esse homem, feiticeiro do cinema, reinventor da literatura.
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O Sul
Jorge Luis Borges

De um de teus pátios ter olhado
as antigas estrelas,
do banco da sombra
ter olhado
essas luzes dispersas
que minha ignorância não aprendeu a nomear
nem a ordenar em constelações,
ter sentido o círculo da água
na secreta cisterna,
o odor do jasmim e da madressilva,
o silêncio do pássaro adormecido,
o arco do saguão, a humidade
- essas coisas, acaso, são o poema.

domingo, 7 de dezembro de 2008

MATHEUS DA MARÉ, 8 ANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos este mês. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 18 em julho. Matheus mal chegou (ou nem chegou) aos oito. Um tiro de fuzil interrompeu sua história. As fotos estão nas primeiras páginas. Dentro da pequena mão, uma moeda de um real.

Quanto vale a vida de Matheus? E de tantos outros: crianças, jovens, adultos, idosos, civis, fardados? Nomes que viram números, estatísticas. São dados numéricos, fotos de mães lancinadas pela dor. E o sangue escorre.

Uma mensagem chega pela internet, vinda da Maré e retransmitida por grupos virtuais: “Menino de 8 anos morre na Maré, a polícia o matou, moradores estão revoltados com essa situação, já é o segundo q morre essa semana. O corpo está lá com o dinheiro do pão na mão. precisamos de um advogado, é urgente! Nos ajudem, por favor!”. Ao final, um número de celular. Quanto desespero, quanto desejo de solidariedade!

Horas mais tarde, outra mensagem chega ao grupo virtual. É Silvana Sá, uma jovem mãe, jornalista. O nome é familiar, a conheci num curso há poucos anos. Ela escreve: “O fotógrafo Naldinho Lourenço, da Maré, fez a cobertura da trágica morte do menino Matheus e também do sepultamento.[...]. Que Estado é esse, que desrespeita o mais fundamental direito, que é o direito à vida? Que política de segurança é essa que extermina as camadas mais pobres da sociedade, que considera cidadão apenas as pessoas provindas da classe média pra cima?”.

Aqui, querida mãe e colega, eu diria, não minimizando a tragédia da Maré, mas com alguma lucidez de quem está mais distante: os mais pobres são, sim, os mais atingidos por este estado de coisas, devido a sua vulnerabilidade, mas a insanidade, a irresponsabilidade das autoridades tem atingido a todos. Crianças são baleadas nas favelas e dentro dos carros de seus pais. Todas igualmente únicas para suas famílias e para a sociedade. Todas preciosas. É a socialização do horror.

E ela prossegue: “Olhar as fotos que foram publicadas no site Viva Favela é ter uma pequena dimensão da dor e do choque sofrido por todos nós [ ..].O desejo agora é que esse pequeno anjo esteja num lugar livre da dor, livre do medo do tráfico, do medo da polícia, do medo da milícia. Desejo de que essa mãe não sucumba à dor [...]. Sabemos que ficarão para sempre os sons de suas gargalhadas, de suas bagunças em casa... mas também o som daquele único disparo que matou impiedosamente aquela criança. [...] sou moradora de comunidade, estava lá ontem, tenho um filho de 4 anos - o meu bem mais precioso - e não consigo imaginar o que seria de minha existência sem a existência dele.”

Leio, em outra mensagem, uma entrevista com o presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, Charles Guimarães, que diz: “a ONG Uerê e a associação de moradores estarão juntos nessa luta”. A Uerê é um projeto de Yvonne Bezerra de Mello, aquela que socorreu os meninos vítimas da chacina da Candelária (1993). Lembro-me de, na época, ver sua imagem acolhendo os meninos, dando-lhes o colo que talvez nunca tenham tido. E ouvi comentários do tipo: “ela deve ser meio maluca...essas madames deviam procurar algo melhor para fazer...” Ah! se tivéssemos mais Yvonnes na administração pública, talvez ontem Matheus tivesse comprado seu pão em paz.

Mas erguem, por exemplo, uma Cidade da Música, superfaturada, quando a “música” que freqüentemente ecoa na cidade são tiros, gritos, choro, lamento. E ignoram que nas calçadas uma legião de pessoas faz sua moradia. E não me venham dizer que segurança pública não é assunto municipal. É de todos os governos, de todo cidadão.

Não há vencedores nessa batalha. Todos nós somos perdedores. Cada um com seu prejuízo: psicológico, material, social, econômico, moral... O policial que atirou também é um perdedor, e não estou partindo (apenas) de uma visão espiritual, religiosa. Uma testemunha disse que viu um PM em prantos e repetindo “Matei uma criança”. A chefia da Polícia diz que houve troca de tiros, mas os olhos do oficial não encaram o repórter ou a câmera ao dar a declaração. As evidências no local não ajudam a versão da PM. E uma reflexão a respeito do palco de guerra em que nossa cidade se transformou também reforça a versão de que o policial realmente atirou na criança.

Mas, ele atirou na criança ou numa suposta ameaça que julgava estar atrás daquele portão? Não, não me condenem por me compadecer também deste policial. Pode ser um frio assassino, indiferente à vida humana? Sim, pode ser. Mas pode ser um profissional despreparado, desequilibrado, destroçado psicologicamente. Será que ele tem filhos? Esposa? Mãe?

Não, não estou aqui defendendo a política de segurança que mete o pé na porta. Ela é abominável e rejeitada por policiais escrupulosos (veja artigos abaixo). Defendo apenas que se olhe o todo, o entorno, o cenário surreal que tomou conta desta cidade (e de outras, infelizmente). Caso contrário, mergulharemos cada vez mais numa guerra fratricida, buscando culpados, vingança, justiça questionável e ineficaz.

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (1)


Há duas semanas acontecia na sede da ABI um Fórum de Segurança Pública e Cidadania, promovido pelo movimento Rio de Paz. Acompanhei parte do encontro. O presidente do movimento, o teólogo Antonio Carlos Costa, trouxe os fatídicos números da violência. São homicídios dolosos, desaparecidos, feridos. Para Antonio Carlos, não há como discutir qualquer avanço nessa área sem discutir antes o direito à vida. Ele afirmou que espera para 2009 uma ampla mobilização popular, pressionando o governo para que esses números despenquem. O público reduzido não correspondia a esta expectativa. Tudo bem, mobilização, hoje, se faz também no mundo virtual, mas periga acontecer o que o Bispo Robinson mencionou em sua fala, já no período da tarde: há muita elaboração que não é posta em prática. Não podemos esperar que o Pronasci e projetos como o Território de Paz, lançado pelo Presidente Lula há dois dias, sejam ações milagrosas.

Pacto Social
O Coronel Mario Sergio de Brito Duarte há 28 anos lida com segurança pública. Foi comandante do Bope. Jaqueline Muniz é doutora em Ciência Política, antropóloga. Coube a eles falar de Pacto Social. Suas falas não se cruzam, mas podem revelar diferentes ângulos de uma situação, ambos importantes: a visão de quem está dentro e a visão acadêmica de quem pesquisa. O oficial da PM fez uma retrospectiva da escalada da violência no estado, agravada após os anos 1980, com a disseminação do consumo de cocaína. Ele não gosta de falar em “crime organizado”, prefere “crime coletivizado” e vê cada facção como uma sub-nacionalidade. Lembrou que as vozes da ciência foram caladas por vários anos, só voltando a se manifestar após o fim do regime de exceção. E afirmou que a desigualdade social é fator essencial do crime.

O coronel descreveu o que chama de conflito urbano armado: envolve pessoas coletivamente em áreas urbanas, com artefatos, condutas e táticas de guerra, grande número de mortos, mutilados, desaparecidos; segue uma ideologia que não é revolucionária, política, mas de facção, que tem a idéia de soberania de territórios. Ele usou a expressão “idéia de pertencimento”, muito citada por estudiosos do tema. O jovem, muitas vezes desprovido de educação, apoio da família e, principalmente, perspectivas, busca uma identidade, um grupo. E o tráfico está ali, à espera, pronto para fazê-lo sentir-se o rei da favela.

Duarte defende a presença, moderada, das Forças Armadas na repressão ao narcotráfico e vê como uma das soluções a retomada pelo Estado dos territórios ocupados pelo crime. Entende como necessária a parceria do Estado com a iniciativa privada, as igrejas, o terceiro setor e também a libertação psicológica das comunidades e a implementação de uma cultura de paz. Ele questiona e considera complexa a proposta de um Pacto Social, que, para ele, soa hermética e dá a idéia de um comportamento sem questionamentos.

Jaqueline é uma metralhadora falante. É preciso algum tempo para digerir e organizar na mente o que ela diz. “Um mundo sem liberdade não precisa de polícia. Numa sociedade livre, democrática e plural, como sustentar a ordem pública?”, pergunta ela. Traça um contexto histórico, um mundo pré-sociedade, marcado pela desconfiança, incerteza, onde não havia pacto algum, apenas a posse, com cada um querendo se proteger, se armar mais que o outro, acreditando que a qualquer momento seria atacado. Um mundo de individualismo. Ela falava de pré-sociedade, mas isso não soa familiar?

Entretanto, acrescentou ela, os mecanismos de proteção geram mais insegurança e os recursos são finitos. O pacto é essencial, acredita Jaqueline, pois no mundo precário da posse, como ela não tem o consentimento do outro, recorre-se ao terror. A etapa seguinte é o dano social, a eliminação do estado de direito. “Para policiar é preciso pacto”, disse ela, enfatizando que quanto menor o consentimento, menos eficaz é a polícia. Segundo ela, a repressão é necessária, mas deve ser a menor possível; antes dela, vêm a auto-regulação, prevenção, dissuasão. Destacou ainda que as ações policiais se inserem no campo da segurança pública, mas nem todas as ações de segurança pública são de competência da polícia. Sem uma política pública clara nada funciona, pois não se sabe que modelo seguir, afirmou.

Num ponto os discursos de Jaqueline e Duarte se tocam. “A polícia não atua sobre comportamento, ela altera as oportunidades; intervém sobre as atitudes e não sobre as trajetórias”, disse ela. Já o coronel usou a equação: delito = desejo de delinqüir + oportunidade, destacando que é sobre este último que a polícia atua. Ele afirmou que por muitos anos o governo federal não se importou com segurança pública e que policiais bem preparados não se formam de uma hora para outra. Duarte entende que os modelos de participação da polícia dentro da sociedade devem ser renovados e melhorados.

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (2)


Os últimos 20 anos
Outro oficial da PM esteve no encontro: o Coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante geral da PM-RJ. Ele começou sua fala remontando ao Império, quando a média era de 30 assassinatos por ano (1808), mas observou que até hoje a “Corte” escolhe quem é cidadão. Para o coronel – que trocou o vestibular para matemática pelo ingresso na polícia, por oferecer possibilidade de emprego em prazo mais curto - os policiais vêm tendo de se adaptar a mudanças em seu treinamento, em função das diferentes visões políticas. Os sucessivos governos exigem do policial comportamento contraditório. Ele, por exemplo, foi formado para lutar contra a guerrilha e ensinado que porta se abre não com chave, mas com o pé. Lembrou também o tratamento dado pela mídia às ocorrências criminosas, o tratamento jocoso das rádios, em programas sensacionalistas onde a Baixada Fluminense e os negros (como ele) eram sempre os protagonistas.

O ex-comandante da PM destacou a atuação do Coronel Nazareth Cerqueira, que mudou a filosofia da polícia (Ubiratan era tenente na época), a ordem passou a ser “tirar o pé da porta”, trocar a força pelo serviço. Ele seguiu, traçando um panorama da época: surgiram as idéias de polícia comunitária e dentro da corporação houve resistência, por conta de desconhecimento, falta de informação. As ONGs ainda não estavam estruturadas como hoje e ninguém entrava nos batalhões. O Governo Brizola (1983-87) foi o responsável por essa mudança, mas logo começou a ser atacado pela mídia e em 1987, com a eleição de Moreira Franco, volta o “pé na porta” e todo um trabalho de arejamento e humanização da polícia é perdido. Brizola e Cerqueira voltam em 1991 e vários projetos, articulações com lideranças comunitárias, contatos com mídia, academia, são feitos. Mas em 1995, com a eleição de Marcelo Alencar, generais voltam a ocupar postos na polícia é criado o prêmio faroeste. O profissional policial era um mero cumpridor de ordens, sem questionar. Sua motivação passa a ser a recompensa financeira. A sociedade começou a clamar por mudanças.

No período 1999/2002 o governo Garotinho mistura diferentes profissionais na segurança: militares + acadêmico (Luiz Eduardo Soares) + comandante PM. Para o Coronel Ubiratan, mudou apenas o cenário, mas não a filosofia; a gratificação faroeste continuou (Luiz Eduardo deixou a equipe). De 2003 para cá, entram em cena os delegados da Polícia Federal e nesse período todo, destacou o coronel, nunca tivemos uma política pública sequer para a segurança. “É fácil achar o culpado, é só trocar o comandante da PM”, disse Ubiratan. Segundo ele, a mídia mostra diariamente a atuação da polícia, não a do governo. “Em todo o mundo a política atua sobre as polícias, mas a participação social pode minimizar isso”, afirmou ele. Ele revela que no seminário A Polícia que Queremos, 11 eixos temáticos eram voltados para a PMERJ, e apenas um abordava a visão do cliente.

Paulo Roberto, pai do menino João Roberto, morto pela polícia em julho, questionou o coronel sobre a não expulsão dos PMs culpados, perguntando se isso não seria corporativismo. Ubiratan não defendeu a ação dos policiais, e afirmou que eles devem, sim, ser punidos, mas pergunta: em que condições eles atuam? Eles devem ser julgados, mas quem os faz agir assim também deveria ser, afirmou ele. Ele já havia mencionado, num outro momento de sua palestra, que o número de suicídios e separações de casais é grande na corporação.
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Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem sabe não presta, fica vivo,
quem é bom, mandam matar.
(Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência)

O Coronel Nazareth Cerqueira foi assassinado no centro do Rio em 1999. Era negro, de origem humilde. Alguns depoimentos publicados na revista Isto É, na ocasião de seu enterro:

"Ele atualmente fazia trabalhos teóricos sobre criminalidade, não andava armado e nem usava seguranças" - Nilo Batista.

"A grande obra do coronel foram suas idéias" - Rubem César Fernandes, coordenador do Movimento Viva Rio.

"Ele lutou contra a discriminação e, numa sociedade preconceituosa como a nossa, sempre encontrou barreiras. Quem sabe sua morte não chama atenção para suas teorias?" - Coronel Jorge da Silva, que ocupou a chefia do Estado-Maior da PM no tempo de Cerqueira.

Há quase dez anos...

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (3)


Direitos Humanos
O advogado João Tancredo também fez uma retrospectiva, trágica. Lembrou as mães de Acari, as chacinas que se sucederam. Referindo-se a sua passagem pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, disse que “direitos humanos não se pratica de cócoras” e que “a pior coisa é alinhar a instituição com partidos políticos”.

Ele também trouxe números e constatações: 29% dos moradores do complexo do Alemão vivem abaixo da linha de pobreza; em 2007 o Hospital Getúlio Vargas registrou aumento de 45,6% em seus atendimentos; a rua Furquim Mendes deixou de ser rua para virar favela; AR-15 e M-16 não têm origem desconhecida, são fabricados pela Colt, empresa norte-americana; o Estado sonega os dados, a 27ª DP, no Alemão, não é informatizada. Denuncia que a corrida para ganhar as eleições é que determina as ações dos políticos e não a necessidade de políticas públicas. Ele alerta que, ainda que comecemos hoje a reverter este quadro sombrio, já são três gerações aniquiladas.

João Tancredo sempre esteve presente, combativo e destemido, nos momentos dramáticos vividos por nossa população. Mas sua atuação certamente desagradou a poderes constituídos e ele foi exonerado do cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, em 2007. A maioria dos membros da Comissão apresentou renúncia coletiva, na ocasião.
Segurança e fé
Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese de Recife e mestre em Ciência Política. Ele chama de nossos “delitos de estimação” a violência, a corrupção e a injustiça social e diz que o fatalismo tem de ser combatido. E aponta que numa sociedade cujo modelo é a acumulação de bens, a violência é o atalho para se atingir os objetivos. Ele afirmou que a melhor contribuição que uma comunidade religiosa pode dar é ser isso mesmo – uma comunidade de fé, e que já testemunhou grandes transformações em presídios e outros espaços onde há violência.

Ele faz um paralelo entre a galinha e a pata: enquanto a primeira faz alarde ao pôr um ovo, a segunda fica quietinha. Ele propõe que os cristãos comecem a “cacarejar”, para que todos saibam que mudanças são possíveis, embora os ensinamentos digam que se deve esconder o bem praticado. Mas sem dúvida é sensato o que o bispo sugere, já que, longe de significar vaidade, poderia estimular mais ações junto a pessoas marginalizadas. Ele enfatiza que o diferencial dos militantes religiosos é que, além do cuidado, levam afetividade e cita a Assembléia de Deus, de Belém, primeiro grupo a chegar ao Timor Leste para dar assistência.

Participaram também do fórum, mas não assisti a suas palestras: Ana Paula Miranda (IUPOL e IPP), Vinicius George (Sindicato dos Delegados de Polícia); Jorge Antonio Barros (jornalista, mantém o blog http://www.reporterdecrime.blogger.com.br/) e Antonio Carlos Carballo (sociólogo e tenente-coronel da PM). Veja também http://www.abi.org.br/.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

TECENDO SOLIDARIEDADE PARA O NATAL


O mês de dezembro está recheado de eventos e campanhas que ajudarão a manter acesa a luz do SOLAR MENINOS DE LUZ, organização que atua na comunidade Pavão-Pavãozinho e Cantagalo e que tem hoje 400 alunos, do berçário ao Ensino Médio. Agende-se, divulgue e participe:

DE 1º a 30/12 – Nas lojas ANIMALE (http://www.animale.com.br/) estará à venda uma camiseta criada especialmente para a campanha Mamadeira Cheia, que beneficiará cerca de 100 crianças do berçário e maternal do SOLAR.

DIA 13 – Saborear um apetitoso churrasco e ajudar as obras do Solar, este é o cardápio do ALMOÇO BENEFICENTE que acontece na Churrascaria Carretão (http://www.carretao.com.br/). Haverá sorteio de brindes e ingressos para peças de teatro. Convites a 60 reais, com direito a 2 bebidas. Rua Ronald de Carvalho, 55 A e B – Praça do Lido. A partir das 13 horas. Informações com Camilla (8728.5188) ou Neide (9351.9444).

DIAS 13 e 20 – POSTO 6 DE BRAÇOS ABERTOS e PARADA ILUMINADA - Comerciantes de Copacabana se unem para uma bela celebração. A programação inclui música, distribuição de brindes, promoções e decoração especial. Haverá arrecadação de alimentos para o SOLAR, que participa da festa com seu Grupo de Percussão, parceria com o Monobloco. A apresentação será no dia 13, às 16 horas, na Av. N.S.Copacabana, esquina com Rua Rainha Elizabeth, mesmo local onde estará a caixa para as doações (agência dos Correios).
A Parada Iluminada é um desfile que acontece na Av. Atlântica no sábado anterior ao Natal e o SOLAR estará presente no evento com a menina Vitória, 9 anos, aluna do 4º ano e integrante do Coral.
DIAS 27 e 28 – Fruto de parceria da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem com o SOLAR, alunos do coral, de violino e violoncelo apresentam-se na Cidade da Música - Cebolão, Barra da Tijuca.

DE 1º a 30/12 – A administradora IMODATA promove uma campanha de arrecadação de alimentos em condomínios das zonas sul, norte e oeste. http://www.imodata.net/

De 1º a 30/12 - LOJAS ÁGATHA (http://www.agatha.com.br/) – Pulseirinhas à venda nas lojas, com renda para o SOLAR. Preço: 19 reais.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

POLÍTICA DE BATOM


As marcas de batom nos copos descartáveis jogados na lixeira já denunciam: este é um espaço de mulheres. Talvez nos anos 60, 70, não fosse assim, pois vaidade e consciência política não andavam juntas e batom ou brincos não desafiavam o patrulhamento ideológico dos companheiros.

Mas elas estão aqui, do Pará ao Rio Grande do Sul. Algumas, em vez das blusinhas da moda, usam camisetas de campanhas contra a violência sexual ou o racismo. Um traço comum nesse tipo de platéia, salvo uma ou outra exceção, são os cabelos encaracolados, crespos, os penteados afro. Aqui, chapinha não tem vez. Aqui, as mulheres se importam com o que está fora e dentro da cabeça. Lembro-me dos cabelos de Jandira Feghali, alvos constantes de seus adversários.

E por falar em Jandira, Nilcéa Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na abertura no encontro, nos lembra que apenas 500 mulheres conseguiram se eleger este ano, em todo o País. Isto representa 9,06% do total de eleitos. E o Estado do Rio de Janeiro é um dos que menos elegem mulheres para as Câmaras. Curiosamente, nos estados do Nordeste, redutos historicamente machistas, a presença das mulheres nas eleições tem sido forte. Este ano, duas disputaram a Prefeitura de Fortaleza e em Natal também foi uma mulher quem levou a melhor. Mas é pouco, diante de um país onde a população feminina passa dos 50%.

José Eustáquio Diniz Alves, sociólogo, economista e demógrafo, Vice-presidente da ABEP, observa que após a 4ª Conferência Mundial Sobre a Mulher, em Pequim, em 1995, houve um aumento da participação das mulheres na política. O Brasil, segundo, ele seguiu esta tendência, mas deu uma estagnada. E mostra uma comparação surpreendente: Ruanda: 58,3% de mulheres no Parlamento, enquanto que no Brasil este percentual é de inacreditáveis 9% (142º lugar no ranking). Para ele, a lei que estipulou cotas para mulheres nos partidos (Lei 9100/95) é equivocada e inconstitucional. Foi reformulada em 1997 e melhorou um pouco, diz ele. Mas, na verdade, a gente conclui que é mais uma daquelas leis que os obrigados a cumprir fingem que o fazem e quem devia fiscalizar, finge que acredita que estão sendo cumpridas. Tereza Cruvinel acredita que até 2010 haverá mudanças na lei eleitoral e vê necessidade de mudar o sistema de financiamento das campanhas.

Por outro lado, o Seminário A Mulher e a Mídia vem crescendo. Nesta sua 5ª edição recebeu 700 pré-inscrições, sendo 270 confirmadas. São mulheres (alguns poucos homens) que lutam em diferentes frentes pela visibilidade da presença feminina na mídia. Em tempos de mulheres-frutas, isso é fundamental. E esta luta busca participação nos centros de poder, uma mídia democrática e não discriminatória, onde a mulher seja autora e assunto. E não precise estar atrelada a um homem para merecer algum destaque e a quem seja conferido o mérito a que tiver direito.

As redações têm muitas mulheres hoje, argumentam algumas, mas, perguntam outras, elas estão em cargos de chefia? Ganham salários iguais aos dos homens? Como em outros tantos campos de discussão, há muitas vezes falsas impressões, brechas no terreno que nos enganam e nos fazem tropeçar durante a caminhada. "É preciso estar atento e forte", já cantava Caetano.

A Ministra Nilcéa anunciou, em primeira mão, o lançamento da campanha/site Homens Pelo Fim da Violência contra as Mulheres (veja na Agenda deste blog). Foi meu primeiro encontro com A Mulher e a Mídia; ficarei de olho na 6ª edição.

A cobertura completa do Seminário você encontra no site: http://www.patriciagalvao.org.br/novo2/index.htm

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

OLHOS ABERTOS PARA A CULTURA




Aracy de Almeida deve estar sorrindo, com aquele seu jeito moleque, desaforado mesmo. E pensando como a vida pode dar lições curiosas. A Zona Norte do Rio, berço da preferida de Noel Rosa, da Dama do Encantado (como a cantora era conhecida), é uma região carente de opções culturais. Todo mundo sabe disso, inclusive os gestores públicos, aqueles que decidem para onde vão as verbas alimentadas com os tributos que o povo – de todas as regiões da cidade – paga. Mas eles parecem não enxergar esta realidade.

Por isso é especialmente notável que um espaço cultural na Zona Norte seja inaugurado numa instituição de apoio a deficientes visuais. Pois foi no teatro da União dos Cegos do Brasil (UCB), no bairro do Encantado, que o Centro Popular de Cultura Aracy de Almeida, com a parceria da Arte Nova Produções e o apoio da CTIS Informática, encontrou condições para materializar a homenagem à cantora, morta em 1988.

você lê a matéria na íntegra no http://www.terceirosetor.jor.br/edicoes/ed11/0809capa.asp

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CINE GAIA – MEIO AMBIENTE NO CINEMA (parte 1)




O I Festival de Cinema Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro se encerrou no último domingo. Foram dez dias de exibições gratuitas no JB – num belo teatro onde paredes de vidro nos deixam ver um pouco do verde lá fora – e no Centro Cultural dos Correios. Assisti a menos filmes do que gostaria, mas dos que vi guardei boas lições e lembranças. Na recepção, gente simpática e atenciosa. Até me pediram um depoimento que, apesar de mais acostumada a escrever do que a falar para câmeras, concordei em dar, no desejo de colaborar com um evento tão bem-vindo. A divulgação, ao que parece, é que não foi eficiente o bastante, pois o público era reduzido. Uma pena! Mas este foi só o primeiro. Que venham o II, o III e muitos mais. E que as salas de exibição se multipliquem pela cidade e estejam cheias de gente de todas as tribos.

CENA 1 – Noilton Nunes e Pedro Sol aproveitaram o kuarup de Orlando Villas Boas, em 2003, para abordar várias questões ligadas aos povos indígenas. Seu filme mostra a atuação de líderes como o pajé Sapain e os caciques Aritana e Raoni na luta pela preservação do parque do Xingu. KUKA HITCHUTI é o nome de seu filme, palavras que significam algo como: você já abriu os olhos? Com esta pergunta as crianças acordavam a equipe que permaneceu na aldeia durante as filmagens. Os realizadores transferem para a platéia a pergunta, para que não percamos de vista as ameaças que o avanço do cultivo da soja e da pecuária, atividades incentivadas ou toleradas por autoridades, representa não apenas para os povos do Xingu, mas para todo o planeta.

CENA 2 - As vítimas do acidente com o Césio-137 de Goiânia ganharam voz no documentário O PESADELO É AZUL (uma alusão à luminosidade azulada emitida pelo material radioativo), de Ângelo Lima. Contam como perderam tudo, a falta de informação, o tratamento inadequado que tiveram por parte das autoridades. Foram discriminados pela população, vítimas da ignorância. Sofrimento físico e moral que perdura até hoje, 21 anos depois que catadores de lixo encontraram a cápsula com o Césio, abandonada numa clínica de radiologia desativada pelos donos e esquecida por quem deveria fiscalizar, e a violaram, na intenção de vender o metal para um ferro-velho. No material de arquivo, Fernando Gabeira aparece denunciando que a população deveria ser bem informada sobre o que ocorria para poder lutar junto naquele que foi o maior acidente radioativo do mundo (mais grave que Chernobyl). E perguntava: “Como colocar uma casa no lixo?”, referindo-se à contaminação que atingiu pessoas, casas, animais, meio ambiente. A Fundação Leide das Neves (menina de 6 anos, morta pelo Césio) criada para dar apoio às vítimas, não atende a todos, denunciam os moradores de Goiânia.

CENA 3 – ITATIAIA: VISTO POR DENTRO – Aqui o azul não é mortal, é uma das muitas cores que invadem a tela numa poesia visual, como definem os realizadores Christian Spencer e Gibby Zobel. Os nomes são estrangeiros, mas a produção é nacional e leva o espectador a um passeio de 23 minutos pelas belezas da Mata Atlântica, acompanhado por uma trilha sonora composta pelo homem e pela Natureza. As estrelas deste espetáculo são aves de colorido inacreditável, o Muriqui (maior primata das Américas) e a jaguatirica, que desfila silenciosamente pelas veredas da floresta. Um show!

CINE GAIA – MEIO AMBIENTE NO CINEMA (parte 2)


CENA 4 – A GENTE LUTA MAS COME FRUTA – sem trocadilho, é um filme para se saborear. Faz parte do projeto Vídeo nas Aldeias e traz lições de convivência entre homens de diferentes etnias, diferentes tribos e entre eles e a natureza. Issac Piyãko, um dos diretores do filme (ao lado de Valdete Piyãko) estava presente nos Correios e sua fala segura, mas mansa, objetiva e coerente nos faz perguntar: não devia este homem estar nas tais reuniões do G-8 ou do G-20? Os indígenas da tribo Ashaninka revelam grande sabedoria ao lidar com os recursos naturais. Plantam árvores frutíferas próximas à aldeia, cuidam da reprodução dos tracajás (quelônios aquáticos), da repovoação dos rios. E na luta contra madeireiros e caçadores mostram determinação, mas consciência de que o diálogo deve ser a arma prioritária no entendimento humano. Assistir ao filme, ver e ouvir Issac com suas belas vestes, nos mostra concretamente o que é desenvolvimento sustentável, como é possível usar tecnologia a favor de todos. Dá uma vontade danada de partir para o Acre, ver de perto os frutos do trabalho daquele povo, provar daquelas frutas.

CENA 5 – O documentário de Sérgio Bloch, MINI CINE TUPY, é um alento para quem vê a cada dia os cinemas fecharem (como o lendário Paissandu, no Flamengo) ou se transformarem num espaço onde pessoas ingerem ruidosamente baldes de pipoca e refrigerante, falam ao celular, enquanto assistem a um filme. José Zagati, catador de papelão da periferia de São Paulo, encantou-se pelo cinema ainda criança. Num país imenso que tem apenas 1982 salas (dados da Ancine para 2004), aquele cinema de sua infância já não existe mais. Com materiais encontrados no lixo, Zagati montou o Mini Cine Tupy na garagem de sua casa e nas noites de domingo abre as portas, posiciona o projetor e leva as crianças a uma viagem mágica. Na sua simplicidade e sabedoria, observando a ligação dos inventos do Homem com a Natureza, José Zagati conclui que “Deus deve ser cineasta”.

CENA 6 – BARTÔ – Um dos poucos filmes para os pequeninos. A animação de Luiz BoTosso e Thiago Veiga traz um simpático bode que se vê ameaçado de perder a única sombra onde pode se abrigar do calor escaldante. Um lenhador tenta cortar a árvore sob a qual ele pretende tirar uma soneca, mas ela não se entrega facilmente. Para derrotar todos os recursos a que o homem recorre – machado, explosivos, motosserra – a árvore conta com sua agilidade e a ajuda das forças da natureza e, claro, do bode Bartô. Um jeito divertido e eficiente de falar de preservação ambiental.

CENA 7 – Da Noruega veio CAMPOS DE DEMÉTER. O documentário mostra como o cultivo de alimentos mudou a face do solo europeu e como precisa ser harmoniosa a convivência entre a ação do homem e vegetação natural. Reporta-se à lenda de Deméter, deusa da agricultura, cuja filha foi raptada por Hades e levada para o interior da Terra. A mãe consegue que a filha seja libertada durante seis meses do ano, quando então a natureza floresce. Nos outros meses, há frio e escassez de alimentos, daí a necessidade do homem aprender a cultivar para não sucumbir à fome.

EXPEDIÇÕES URBANAS - ARTE POR TODOS OS LADOS


Você já foi ao Centro Cultural da Justiça Eleitoral? Não? Então vá! Veja que não estou falando do Centro Cultural da Justiça Federal, também uma beleza, ali na Rio Branco. Há tempos eu namorava o vetusto prédio da Rua Primeiro de Março 42, nas minhas idas e vindas do Centro Cultural Banco do Brasil (outra belezura arquitetônica). E foi assim no último domingo, indo ao CCBB e ao Centro Cultural dos Correios (mais uma jóia), com minha filha querida, entrei enfim naquele monumento. Ainda havia tapumes na entrada, mas lá dentro, obras só as de arte. A exposição em cartaz é Arquivo Geral, mas, cá entre nós, meus olhos se encantaram mais pelas colunas, paredes, tetos. Um deslumbramento.

Não cheguei a visitar o andar superior, pois a fome nos obrigava a ir à caça de um lugar para almoçar. Mas até que me agrada a idéia de que há ainda naquele prédio centenário recantos a serem explorados. Nas obras expostas, arte contemporânea, diversas maneiras de olhar o mundo que nos cerca. Diz o folder da exposição: "É um evento síntese do mercado de arte carioca concebido para potencializar a agitação cultural gerada periodicamente pela Bienal de São Paulo nacional e internacionalmente". Há minúsculos esqueletos de pássaros (ou não?) e uma adorável colagem de bibelôs, daqueles coloridos e salpicados de dourado que a gente comum chamaria de bregas, mas os artistas e descolados, creio eu, chamariam de kitsch.

Uma escultura atrai nosso olhar, do jeito que a arte deve chamar a atenção: tocando algo lá no fundo da gente, uma emoção, um tremor, um arrepio. Apesar de sua matéria prima ser galhos retorcidos não atentei logo para o óbvio. Mas ao conferir a placa lá estava: Frans Krajcberg. Mestre é sempre mestre. E não pelo status ou fama, mas pelo divino dom.

Vá ao CCJE, para ver as exposições e, sobretudo para conhecer uma preciosidade que temos em nossa cidade. Aproveitemos o que ainda nos resta, construções que guardam nossa História e conseguiram escapar da irresponsabilidade dos governantes, da ignorância predatória, das garras da especulação imobiliária. São lugares que, quando em viagem, especialmente no exterior, fazemos questão de conhecer e aos quais, quando em terras tupiniquins, nem sempre damos o merecido valor.
http://www.tse.gov.br/servicos_online/centrocultural/index.htm">

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A ESPINHA E O PROFESSOR - UM ENCONTRO NA SERRA DO MAR






Às vezes a gente topa com uma pedra. E se machuca. Mas, algumas vezes esta pedra é preciosa e, em vez de nos machucar, nos enriquece. Deodato Rivera é assim. Uma teia de acontecimentos nos levou a este homem especial: o curso de JPPS do professor Evandro na UFRJ, a celebração do ECA 18 anos, George, Dudu... acabamos subindo a serra, no último sábado, rumo a Itaipava, onde Deodato, com a cumplicidade de sua regina Regina, constrói em sua oficina as engrenagens de uma máquina chamada REVOLIÇÃO.

Há tanto vigor sob os cabelos de nuvem desse homem! Nuvens que chovem sabedoria, generosidade. Chuva amorativa que lava o ranço da estagnação, que nutre o solo de nossas mentes, que faz crescer sementes de dádiva. E há tanta delicadeza e, sobretudo, humildade! Deodato semeia, revolve a terra, aduba e, discretamente, se recolhe, vendo crescer o que plantou ou ajudou a desabrochar.

Assim, acolhidos pelas montanhas, que Deodato faz questão de chamar pelo nome - Serra do Mar -, observados pelas árvores de diferentes verdes e formas, rodeados por gatos e quatis (estes não vimos, mas Deodato os conhece), embalados pelo cantar dos pássaros, envolvidos por flores e brisa – o prana -, fomos seduzidos pela magia profunda da natureza.

Cercados por uma atmosfera de serenidade, adornada por diferentes versões da Bandeira Nacional, partimos em busca do Encontro. Encontro de células – como as que nos geraram-, de gestos, de vozes, de olhares, de mãos, de energias. Encontro é o que Deodato celebra e ele nos convida a compartilhar deste banquete, onde a amorosidade é servida em bandejas tecidas de palavras.

Corações e mentes desarmados, mergulhamos nas histórias uns dos outros: da menina gordinha que aprendeu a se gostar; do jovem profissional de Educação Física que, graças às palavras de um antigo professor, aprendeu a ver nos seus alunos algo além de músculos; do tragicômico namoro que aconteceu graças a uma espinha de bacalhau; refletimos sobre os ressentimentos guardados que paralisam a circulação sanguínea e geram doenças; nos emocionamos com a emoção de um homem simples que, guiando o ônibus, nos conduziu até aquele lugar de encantamento...

Assim transcorreram horas cujo tamanho não poderia ser medido por minutos, pois transcendem a noção de tempo dos relógios. Deodato nos falou de fósforos molhados, incapazes de acender as velas que estão dormindo, à espera de alguém que desperte sua luz. Sejamos todos nós – Felipes, Evandros, Tatianas, Déboras, Therezas, Júlios... - fósforos bons, prontos para acender velas que iluminem a escuridão de nossos próprios caminhos e os de nossos companheiros de jornada.

domingo, 26 de outubro de 2008

ESPORTE FINO: CENA DE BOTEQUIM



Personagens: Rubro-Negro e Vascaíno.
Cenário: Botequim qualquer da cidade, manhã de um dia qualquer.

Rubro-Negro (RN), sentado no botequim, lê as páginas esportivas de um jornal popular onde a notícia principal é um certo baixinho que, acusado de doping, alega estar usando remédio para queda de cabelo. Vascaíno (V) chega e entra no bar.

RN – Pô, aí! Pegaram o cara no exame antidoping.

V – Nada a ver, cara! Ele só tava usando um remédio pra crescer cabelo.

RN - Crescer, não! Pra parar de cair! Baixinho e careca, não dá, né?

V - Ele tá certo, cabelo é importante, ainda mais pro cara que é atleta. Você não conhece aquela história do baixinho que lutou com um gigante e venceu? A força dele tava no cabelo.

RN - Como é que é? Tá falando do Davi e Golias?

V - É, esse aí mesmo!

RN - Não seja burro, cara! Esse baixinho derrubou o gigante com uma pedrada. O do cabelo era outro, o Sansão.

V - Que Sansão, cara! Tu não manja nada mesmo dessas história de Bíblia! Sansão foi o do Mar Morto.

RN - Mar Morto?!

V - É... o mar se abriu pra ele passar com a galera dele.

RN - Não, não! Não era o Mar Morto, era o Mar Vermelho!

V - Mar Vermelho é outra parada. Você tá confundindo tudo. O do Mar Vermelho era o Vasco da Gama, que queria encontrar as índias e teve uma calmaria que empurrou ele pra lá, onde tinha as índias peladas.

RN - Vasco da Gama?

V - É, Vasco da Gama, sim! Por isso a cruz de malta do Vascão é vermelha.

RN - Ahannn...Hummm... índias peladas... então deve ser por isso que os caras são chegados numas peladas na praia...

V - Tô falando sério, cara!

RN - E o Mar Morto, qual é a dele?

V - É um mar que não tem peixe.

RN - Ah, nisso aí eu concordo contigo, peixe!

ANCELMO GÓIS E O GENERAL



Descobri na última terça-feira, dia 21, algumas coisas bem interessantes. O Exército mantém um Centro de Estudos de Pessoal (CEP) no Forte Duque de Caxias, no Leme. Eu não sabia disso. O CEP (www.ensino.eb.br) é uma escola dedicada às ciências humanas e promoveu, durante a semana que acabou, um Seminário de Comunicação Social. Ponto pro pessoal de verde-oliva. Neste tempo de celebração das disciplinas tecnológicas, de educação-adestramento (falei disso no post do dia 2/10, citando o escritor Alcione Araújo) é bom saber que as da área de Humanas também têm seu espaço.

O primeiro palestrante convidado foi o veterano jornalista Ancelmo Góis. Mais um ponto pros organizadores. Como o evento é aberto à comunidade não-fardada, ou seja, gente como eu, lá fui, interessada tanto no que o Ancelmo ia dizer, como em conhecer a organização militar (como eles chamam os quartéis) plantada naquele belíssimo recanto do Rio de Janeiro.

Pois o saldo foi mais positivo do que isso. Foi muito bom ouvir o Ancelmo, à vontade, sem hipocrisia, dizer, por exemplo, que não é imparcial, nem na profissão, nem na vida pessoal. Para ele, ser imparcial é tarefa impossível, pois o ser humano é feito de emoção e, assim, está sempre tomando partido, aqui e ali.

A princípio fiquei meio decepcionada com essa afirmação, afinal me esforço para agir com imparcialidade. E a regra é dizer que a imprensa deve ser imparcial. Mas o calejado jornalista está muito certo. Afinal, o problema não é tomar partido – se vemos uma injustiça não podemos nos omitir –, é ser desonesto. Tomar partido não pressupõe caluniar, confundir certo e errado, mentir, omitir, lançar falsas verdades, como se vê freqüentemente na mídia.

E Ancelmo Góis falou por boa parte da manhã sobre a imprensa e o direito de ampla defesa, sobre a tecnologia, o acesso das pessoas à informação, respondeu a perguntas, contou passagens de sua extensa carreira de jornalista. Sobre o direito de resposta, afirmou que “a imprensa não pede desculpas, xinga o sujeito na manchete e dá o espaço de resposta na seção de cartas”. E foi além: ao dizer que o Brasil é um país que não pede desculpas, incluiu aí, o Exército. E apontou a Justiça como base dos problemas com os quais o Brasil ainda convive. Como exemplo, citou a absolvição de Fernando Collor da acusação de improbidade administrativa.

A informalidade do sergipano, 40 anos de Rio de Janeiro, recorrendo a algumas inocentes expressões populares - que os mal-humorados poderiam chamar de palavras de baixo calão - deu um toque pitoresco àquele auditório, lotado de homens e mulheres fardados. Esta também uma surpresa para mim, na minha ignorância sobre as atividades do CEP: pensei encontrar lá apenas jovens universitários, já que vi o cartaz do Seminário na UFRJ. Até havia alguns, além de senhoras de cabelos brancos que, imagino, são freqüentadoras do Forte. Mas a maioria da platéia era composta pelos militares, do Rio, de outras cidades e até do exterior, inclusive dois bolivianos. Mais um ponto para o CEP.

Apesar do inevitável ritual, como o bater de continências, e de um tom mais formal na abertura e encerramento, o clima do encontro foi agradavelmente descontraído, especialmente graças ao General Sérgio Tavares Carneiro (Diretor de Pesquisa e Estudos de Pessoal), um jovem senhor sorridente (ou os generais são mais jovens do que sempre imaginei ou eu estou mesmo ficando velha...). Foi com franqueza e simpatia que ele contou como se aproximou de Ancelmo. O jornalista publicou uma nota de denúncia, sem checar, sobre uma suposta violação ao meio ambiente, numa unidade do Exército. Depois de algumas tentativas frustradas, o General conseguiu ardilosamente chegar ao famoso jornalista e a partir daí tudo se esclareceu. Um almoço, uma boa conversa e, mais tarde, o convite para a palestra.

Ancelmo contou que esteve preso por 30 dias durante o regime militar, mas admitiu que, desde então, aprendeu muito. E enfatizou a importância do Exército Brasileiro para a preservação ambiental, lembrando que é graças aos militares que algumas áreas verdes da cidade – como a Restinga de Marambaia e morros – resistem à devastação. Bonito ver a aproximação destes dois brasileiros de trajetórias tão distintas e amizade, talvez, improvável.

Saí do Forte Duque de Caxias para o dia azul, o mar de Copacabana luzindo ao sol, com a sensação de estar mais confiante na possibilidade de entendimento entre os seres humanos.

CUBA: BLOQUEIO CAUSA MAIS DANOS QUE FURACÕES


“Levamos a Pátria na mente e no coração, mas também nos atos”. Palavras do Cônsul Geral de Cuba, Carlos Trejo Sosa, no lançamento da campanha de ajuda humanitária àquele país, dia 10, no Rio de Janeiro. O embaixador declarou que os estragos causados pelos furacões Gustav e Ike foram imensos e aconteceram rapidamente, de uma única vez. Já os danos provocados pelo bloqueio econômico são cotidianos, as perdas são enormes.

Segundo Trejo Sosa, os 50 anos de bloqueio não esmoreceram a vontade do povo cubano e a comparou à espada Excalibur, que não se detém diante da rocha. Ele declarou que apesar dos estragos, Cuba não está à beira de um colapso quanto à questão sanitária, como vem sendo divulgado por uma campanha difamatória. E informou que o sistema energético já foi restabelecido e as escolas não pararam de funcionar; a produção agrícola vem se recuperando; não há um cubano que não tenha recebido assistência médica e pacientes de hemodiálise foram transferidos para que seu atendimento não fosse interrompido. Destacou o empenho dos repórteres que, em cima de árvores e casas, registraram a fúria dos ventos e do mar.

Zuleide Faria de Melo, Presidente da Associação Cultural José Martí, disse que a prova de que Cuba cuida bem de seus filhos é que o número de mortos (sete) foi muito inferior ao de outros países atingidos por furacões. O Cônsul lembrou também que em 1963 Cuba enviava, pela primeira vez, médicos para atuarem no exterior, no caso a Argélia. Naquela época, o país tinha apenas 3 mil médicos, mas a semente germinou e a solidariedade permanece, disse ele. Solidariedade que Cuba merece e precisa agora, para recuperar não apenas as construções, mas também o meio ambiente, que foi violentamente agredido, com a destruição de praias e de ecossistemas.

Oscar Niemeyer, o Presidente da Campanha, não pôde comparecer e enviou uma carta de apoio, destacando a coragem do povo cubano frente ao bloqueio norte-americano.

Para saber mais, visite o site da campanha (http://www.porcuba.com.br) e ouça uma linda canção de Silvio Rodríguez.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A PENTEADEIRA DA VÓ SANTINHA


Alguém disse que avó é mãe com açúcar. O açúcar anda em baixa, tido como vilão de muitos males que assolam a sociedade moderna. Mas açúcar será sempre sinônimo de doçura e energia. Assim era a avó Balbina, Bina para todos que aprenderam que sua varanda estava sempre aberta para receber quem chegasse, para uma conversa ou um pedido de ajuda. Na última sexta-feira, vó Bina deixou sua casinha em Nova Iguaçu e foi para uma nova morada, para onde vão pessoas doces e diligentes em prestar solidariedade ao próximo (como a tia/avó Lavínia, do lado de cá da família, que também partiu há quase um ano). Ficou um vazio, uma saudade, mas especialmente o exemplo de uma pessoa especial. É em homenagem à Vó Bina, a avó paterna de minha filha Luana, que publico aqui este pequeno conto escrito em 2002:

A PENTEADEIRA DA VÓ SANTINHA possuía pequenas gavetas e o mistério que elas guardavam era para mim irresistível. Imaginava eu quantas preciosidades estariam ali escondidas, jóias de contos de fadas, pétalas de flores já secas pelo tempo, pequenas fotografias amareladas de homens sisudos em colarinhos altos, entre elas alguma talvez com uma dedicatória, palavras de amor.

Um dia, vó Santinha morreu. Disseram-me que ela havia ficado muito cansada e fora para o céu, dormir com vovô João e tio Augusto – esse, um tio que morrera antes mesmo de eu nascer e sobre quem se falava raramente, quase que em sussurros. Antes de qualquer sentimento de dor, de perda, veio-me à mente a penteadeira, com suas muitas gavetas, agora órfãs. Queria desesperadamente abrir aqueles pequenos compartimentos, verdadeiros cofres, para mim. Mas, como pedir isso a minha mãe, naquele momento?

Anos depois, já adulta, voltei àquela casa, onde viviam alguns parentes e, para mim, a memória de vó Santinha. Muitas coisas estavam diferentes, outros objetos, outra mobília. Lembrei-me de repente da velha penteadeira. Corri para o quarto. Nada! Onde estaria? Percorri os cômodos e enfim encontrei a arca do tesouro no quartinho de empregada. Empoeirada, esquecida. Delicadamente, quase como num ritual sagrado, abri aquelas pequenas gavetas e, com o coração saltitando e pérolas escorrendo dos olhos, encontrei a jóia mais rara: minha infância.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

CUBA: “POR QUEM MERECE AMOR”



Com este lema será lançada na próxima sexta-feira, dia 10, uma campanha de solidariedade a Cuba. Atingida pelos furacões Gustav e Ike nos últimos meses, a ilha de Fidel, que tantos profissionais já enviou a outros países para prestar ajuda, pede socorro. O evento acontecerá na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto Alegre, 71 – 9º andar, no Centro, às 18 horas.

A Associação Cultural José Martí e cubanos que vivem no Brasil estão se mobilizando, com o apoio do Sindipetro, para conseguir ajuda humanitária, diante dos enormes estragos causados pelas tormentas. As perdas são enormes: habitações, agricultura, rede elétrica. Este relato da professora Zuleide Faria de Melo, Presidente da Associação, dá uma dimensão do quadro desolador em se encontra o país: "A escola de Medicina construída na Ilha da Juventude, uma das mais modernas do mundo, com tecnologia de ponta, onde estudavam 300 brasileiros, foi totalmente destruída. Não sobrou um livro, uma telha, um computador. Morreram sete pessoas, o que para Cuba é muito. O país tem planos de evacuação para enfrentar intempéries como essa".

As contribuições poderão ser feitas por meio de depósitos bancários, doação de artigos de primeira necessidade, alimentos, medicamentos. Detalhes na página da internet: http://www.porcuba.com.br/index2/port/index2.html
Fonte: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A JUSTIÇA QUE NÓS QUEREMOS - I

Um nome aparentemente pretensioso para um evento, ainda que realizado sob a marca da Escola de Magistratura (EMERJ). Pretensioso porque o que nós, cidadãos, queremos, freqüentemente é ignorado por quem está no comando. Pretensioso também porque não há um consenso sobre o que queremos. Mas, é fundamental que, atendidos ou não em nossos desejos, continuemos exercendo nosso direito de querer, seja justiça ou outro artigo indispensável a uma sociedade democrática e solidária.

O Seminário A JUSTIÇA QUE NÓS QUEREMOS aconteceu no dia 15/08, no auditório da EMERJ, por iniciativa da Associação dos Juízes para a Democracia. Sim, há luz no fim do túnel; há juízes que estão empenhados nesta luta, entre eles os coordenadores do encontro: Siro Darlan de Oliveira e João Batista Damasceno.

Não pude ir aos debates da manhã. Lamentei perder as falas dos convidados, especialmente de Orlando Zaccone, Delegado de Polícia (autor do livro Acionistas do Nada). Mas os painéis da tarde valeram a ida ao Centro – outrora um passeio agradável, hoje, uma corrida de obstáculos. Mas isto é outra história, ou melhor, outro capítulo desta história.

Direito à Diferença:
Este foi o tema do primeiro painel da tarde. E as diferenças estavam bem representadas, na mesa e na platéia: anônimos, gente conhecida, gente com diploma, ou sem títulos, homossexuais, prostitutas, egressos do sistema penitenciário. Cláudio Nascimento, do Grupo Arco-Íris, contou as dificuldades que enfrentou por assumir sua homossexualidade. Ele enfatizou a necessidade de diferenciar sexo de sexualidade e de enxergar os gays dissociados da prática sexual, já que “não lidam com sexo 24 horas por dia”. Gabriela Silva Leite, Coordenadora do movimento DAVIDA, foi outra voz a pedir o respeito às diferenças.

O escritor Alcione Araújo lembrou que somos diferentes por natureza e o que o faz ‘diferente’ é o fato de ser escritor, numa sociedade que desprestigia a cultura. No entanto, “a arte desperta nossa subjetividade e permite acumular a experiência do outro em si e isto significa crescer”, disse ele. Segundo ele, vivemos um processo de esquizofrenia, com a educação afastada da cultura. Num país com 190 milhões de habitantes, 62 milhões de pessoas estão, de algum modo, ligadas à vida escolar. No entanto, um romance vende somente três mil exemplares, os teatros ocupam apenas 18% de sua lotação e os cinemas recebem cerca de 300 mil espectadores por ano.

Alcione, com a lucidez e clareza que o caracterizam, ressaltou que vivemos numa sociedade centrada na tecnologia; a educação hoje se volta apenas para a profissão, é um mero adestramento. “Após Hiroshima, o poder hegemônico passou a pertencer a quem detivesse a tecnologia e passaram a ser priorizadas as disciplinas tecnológicas, como física e matemática, rejeitando-se as do pensar e sentir”. Para ele, esta postura traduz uma percepção mesquinha da vida. E eu complemento: traduz e reproduz.

O escritor considera que está havendo um aniquilamento da capacidade de percepção humana. Por outro lado, quem aplica a lei terá maior capacidade de usá-la se seus horizontes forem mais amplos. “Espera-se que um juiz não seja um técnico, mas alguém capaz de perceber a subjetividade de cada indivíduo e contemplar as diferenças”, disse ele.

Margarida Pressburger, da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB/RJ, concluiu o painel afirmando que “nossa casa legislativa é retrógrada e o Judiciário deve praticar a Justiça e não a legalidade”.

A JUSTIÇA QUE NÓS QUEREMOS - II

Fora da Lei, Abaixo da Vida

O Des. Antonio Eduardo Duarte abriu este painel afirmando que o Tribunal de Justiça (TJ) mudou nos últimos dez anos; hoje é mais social, sem fugir à Lei. Uma surpresa promissora para quem, como eu, não conhecia o trabalho da Incubadora de Projetos para Egressos, foi a exposição de Ronaldo Monteiro, responsável pela instituição. Ele contou um pouco de sua própria história – ele, também, um egresso do sistema penitenciário – e da Incubadora. Falou da experiência de entrar no TJ sem algemas. Ronaldo ingressou no Presídio Ary Franco em 1991, quando Julita Lemgruber era Diretora do Desipe. Foi seqüestrador e envolveu-se com tráfico internacional de drogas. Hoje lidera uma organização onde os próprios egressos participam na tarefa de ajudar os que chegam e também os familiares de apenados. Segundo Ronaldo, há 430 mil familiares de presos no Brasil. Ele entende que o preso não é para ser ressocializado, já que na verdade nunca foi socializado.

Ronaldo enfatizou que o Governo não tem de ser “bonzinho”, tem apenas de cumprir sua parte, já que todos têm o seu papel. Para ele, “o Estado tem de abrir as portas para as ONGs”. E deu como exemplo o Presídio Helio Gomes (complexo da Frei Caneca) que possui uma escola para 1.200 homens, com apoio dos Governos Estadual e Federal.

O depoimento seguinte foi o de uma mãe que viu seu filho sofrer os maus-tratos comuns nas instituições para jovens e adolescentes, no caso dela, o Santo Expedito. Mônica Cunha lidera o Movimento pela Garantia dos Direitos dos Adolescentes Internos (Moleque). Ela percebeu que tinha de fazer algo ao ouvir as mães dos outros internos dizerem a seus filhos que os espancamentos que sofriam eram conseqüência de seus próprios atos. A indignação a levou a criar o Movimento até porque, se a principio sua preocupação era apenas por seu filho, sentiu depois todos aqueles meninos precisavam de ajuda.

Carlos Nicodemos, do Projeto Legal, observou que se o encontro fosse sobre direito dos consumidores, o auditório – parcialmente vazio - estaria lotado. Criticou a atual política de segurança higienista e disse que está entrando com ação contra as operações Copabacana e Barrabacana. Tal como em 2004, na operação Rio Turismo Seguro, Nicodemos denunciou que a abordagem é feita por policiais civis ou militares, os jovens recolhidos sem a atuação dos Conselhos. Ele considera que os Conselhos Tutelares não funcionam porque estão impregnados pela doutrina anterior. Deveria haver participação popular na decisão sobre a criança.

Num breve histórico, ele enumerou a evolução da lei aplicada aos infratores menores de idade, nos últimos dois séculos, desde 1927, quando se tinha a figura do “menor”, passando por 1979 com o Código de Menores, até 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA trouxe a desjudicialização da política de atendimento. Entretanto, Nicodemos considera que a passagem jurídica foi feita, mas não a passagem política e que o sistema sócio-educativo é um “corpo sem alma”.

Eu tinha grande expectativa pela fala da palestrante que veio a seguir. Tomara conhecimento de suas idéias há mais de 20 anos, quando li seu livro “Cemitério dos Vivos”, um relato contundente sobre as presas do Talavera Bruce. Julita Lemgruber é hoje pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESEC /UCAM). E já iniciou sua fala mostrando sua disposição em ir contra a corrente. Após consultar a platéia, disse: “Temos no Estado do Rio 780 juízes, destes, cerca de 300 na área criminal, mais uns 180 desembargadores. Na platéia apenas 20 levantaram a mão, ou seja, na Casa dos Juízes, um auditório tão grande e tão poucos juízes presentes num encontro que discute a produção dos juízes criminais”.

E a produção é grande. A população carcerária, em 1995, era de 93 presidiários para 100 mil habitantes; em 2007 subiu para 222 por 100 mil habitantes. Muitos presídios são construídos, mas continua havendo déficit vagas. Estatísticas recentes mostram que 439.737 presos cumprem pena (dados de junho/2008), sendo 86% sistema penitenciário e 14% em delegacias. Cumprindo penas alternativas, temos neste ano, 498.729 pessoas. Julita destacou que as penas alternativas não estando substituindo as prisões, mas aumentando o numero de pessoas sob controle do estado.

A pesquisadora contou que durante um seminário em Cartagena (Colômbia), um representante brasileiro, citando dados do DEPEN, afirmou que apenas 150 mil das penas e medidas alternativas seriam necessárias e que 54.000 presos do sistema deveriam estar cumprindo penas alternativas. Inquiriu o palestrante sobre os motivos desta informação não ser divulgada aqui, e recebeu críticas por esta atitude.

Mas Julita acredita que é preciso falar a verdade, sempre, e exibiu um retrato da situação carcerária no país. Segundo a Lei de Execuções Penais, o preso sem 1o grau tem de estudar na cadeia, mas só 16% estudam e 8% são analfabetos. O preso deveria também trabalhar, mas apenas 17% trabalham (dados do CESEC e do INFOPEN).

O encerramento ficou a cargo do advogado Modesto da Silveira, ex-Parlamentar, autor da Lei da Anistia. E ele abriu seu coração, confessou que chorou durante os painéis e enfatizou que o conhecimento que adquirimos não deve permanecer apenas como bagagem intelectual, mas deve ser um propulsor para a ação. E, referindo-se ao Parlamento, perguntou: “Cadê as mulheres, os negros, os pobres? Este Parlamento não representa o povo brasileiro. Ao contrário, estão lá os grandes empresários, latifundiários, banqueiros ou seus representantes. É assim em todo o mundo capitalista”. E lembrou que quem domina a mídia, domina as idéias.

E Modesto, um mineiro que foi lavrador, sem-terra, operário, continuou seu discurso inspirado: “Seminário vem de sêmen, semente, semear. Espero ter frutos para colher no próximo seminário. Mas isso só vai acontecer se as lideranças se movimentarem. É possível mudar. Basta um juiz representativo – como os dessa associação – para promover mudanças”, disse ele.

Fica mais fácil acreditar que é possível a JUSTIÇA QUE NÓS QUEREMOS quando há informação de qualidade, honesta, precisa, clara. Será que aquelas diferenças de opinião, de que eu falava lá no começo deste artigo, que se revelam nas pesquisas – tão precárias – sobre maioridade penal, pena de morte, não seriam menores se houvesse mais encontros como este, com mais divulgação e maior participação da sociedade?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

PAULO FREIRE, A REVISTA VEJA E OS ABUTRES


A revista VEJA elegeu Paulo Freire como alvo na edição de 20 de agosto. O tema: Educação. Algo que certamente preocupa os senhores daquela revista, já que um povo seriamente educado relegaria as distorções e falsas verdades que eles publicam ao lugar que merecem: o desprezo.

Ana Maria Araújo Freire, ou Nita, é viúva do educador e rebateu a agressão com uma carta. Diz ela: “Quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas, camufladamente, age em nome do reacionarismo desta. Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) promove um ciclo de cinema onde a imprensa é a estrela (www.abi.org.br), nem sempre para iluminar. Uma série de filmes, alguns clássicos, revela uma face nada dignificante do exercício da profissão de jornalista. Semanas atrás foi exibido A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (Billy Wilder, 1951), com um Kirk Douglas esbanjando beleza e vigor. E talento. 

 É um filme soberbo, não apenas como obra cinematográfica – direção perfeita, atuações primorosas, bela fotografia, roteiro redondo -, mas pelo retrato que faz de uma sociedade que ignora escrúpulos quando há outros interesses em jogo. Kirk Douglas é um jornalista decadente e irresponsável, que tenta reassumir seu posto de grande repórter, movido pela ambição e pela vaidade. E não hesita em colocar em risco a vida de um homem simples para alcançar seu objetivo. É uma obra que deveria estar nas aulas de Comunicação, nas faculdades de jornalismo. Mas o filme vai além, já que toda uma rede de interesses se forma em torno da farsa montada pelo jornalista, seduzindo políticos e autoridades.


Lá se vai meio século do lançamento do filme de Billy Wilder e o que temos hoje é um panorama aterrador, do qual a ética foi banida, considerada empecilho àqueles que pretendem ascensão profissional ou financeira. Como diz Nita em sua indignada carta: “A matéria [...] conta, lamentavelmente, com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista”.

No encerramento do Seminário “Liberdade de Expressão: Base da Democracia”, realizado na Academia Brasileira de Letras, o presidente da casa, o escritor e jornalista Cícero Sandroni, dizia que “vivemos não a liberdade de imprensa, mas a liberdade de empresa”, destacando as ligações perigosas que unem atividade jornalística e verbas publicitárias, inclusive as do Governo (um artigo sobre este Seminário será postado aqui brevemente). Paulo Freire foi lembrado no encontro pelo professor universitário, jornalista e pesquisador científico José Marques de Melo (ECA/USP) que falou da “cultura do silêncio” diagnosticada por Freire, numa população que sofre de carência educacional e inibição cultural. O cenário ideal para veículos como a revista em questão.

Voltando ao filme exibido na ABI, podemos concluir que, enquanto os abutres se alimentam de matéria em decomposição, num ciclo necessário à natureza, este tipo de jornalismo, ao contrário, tenta apodrecer o que há de sadio, deformando, deturpando, distorcendo fatos.

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (Ace in the Hole)
Direção: Billy Wilder - EUA, 1951

http://www.imdb.com/title/tt0043338/
https://www.youtube.com/watch?v=9m9C4kqUNzw

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

TECENDO SOLIDARIEDADE



UM SOLAR, UM BRECHÓ E O BRILHO DE UMA LUZ
Favelas não são mais chamadas de favelas, mas de comunidades. Novos nomes, velhos problemas, e pior, agravados a cada ano. Mas, numa comunidade da zona sul carioca, há um espaço que ilumina a vida de crianças e jovens: o Solar Meninos de Luz. Do berçário ao ensino médio, meninos e meninas encontram nesta ONG um porto seguro, não para permanecerem ancorados, mas para se abastecerem de conhecimento e valores éticos, a fim de ganhar o mundo.

Algumas das fontes de receita para manter o trabalho do Solar são o brechó, o bazar e o sebo. Brechós estão em alta na cidade e mesmo no mundo. Garimpar peças com personalidade, diferenciadas, não é mais visto com preconceito. Aquele objeto de decoração, ou aquele disco – vinil ou CD – raro, ou ainda, aquele acessório que vai incrementar seu visual podem estar no BRECHÓ e no BAZAR DO SOLAR.

São roupas, objetos diversos, móveis antigos e modernos, sofisticados ou populares, discos. E no SEBO DO SOLAR você também encontra livros usados. Quem sabe não está lá aquele volume que você procura e não encontra mais nas livrarias? Ou obras mais modernas, com preços muito mais acessíveis.

Você ajuda o SOLAR a levar adiante seu trabalho sócio-educacional e ainda colabora com a Natureza, já que reduzir, reaproveitar e reciclar são os três “erres” mais importantes para o meio ambiente. Você pode também fazer doações. Faça uma visita. Recicle-se. Ajude a manter acesa esta luz. Informações 2522-9524 e no http://www.meninosdeluz.org.br/

* SEBO e BRECHÓ do Solar
Rua Visconde de Pirajá, nº 82, subsolo, lojas 109 e 113 - Ipanema (em frente à Praça General Osório)
* BAZAR do Solar
Rua Francisco Sá, nº 51- loja 10 - Copacabana
em frente ao Parque Peter Pan, no corredor do Teatro Posto VI

domingo, 24 de agosto de 2008

DA BOLÍVIA A COPACABANA


A República da Bolívia completou 183 anos de sua independência no dia 06/08. Um dos eventos promovidos pelo Consulado Geral do país aconteceu na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 11/08, com danças folclóricas da região andina. No auditório Oscar Guanabarino, muitos rostos morenos, rostos que nos evocam os Incas, os Andes, com suas neves e suas cores. Desses 183 anos, os três últimos foram marcados por um presidente, digamos, com a cara do povo boliviano.

Em suas primeiras aparições, Evo Morales tinha algo de jovem secundarista, aqueles meninos dos Grêmios, das Uniões Estudantis, com palavras e olhares desafiadores, mas carentes de maturidade. Quase três anos após sua eleição (dezembro 2005), Morales consolida sua vitória com o resultado favorável no referendo do dia 10/08. Cerca de 60% dos bolivianos responderam SIM às perguntas: “Você está de acordo com a continuidade do processo de mudanças guiado pelo presidente Evo Morales Ayma e por seu vice Álvaro García Linera?" e "Você está de acordo com a continuidade das políticas, as ações e a gestão do prefeito de seu Departamento?".

Este espaço não tem a pretensão de fazer análise política – já há muitos por aí, e mais capacitados -, mas parece sensato dizer que o “jovem estudante” amadureceu e vai encontrando seu próprio caminho, ainda que o Hugo Chávez sempre esteja pronto a lhe dar “régua e compasso”, tal como a Bahia deu ao ex-Ministro e sempre artista Gilberto Gil.

Em seu discurso, após divulgação do resultado, o presidente boliviano declarou: "A participação do povo, com seu voto, é para unir os diferentes setores do campo e da cidade. E essa união será feita juntando a nova constituição com os estatutos autônomos". E a gente fica pensando: União é uma palavra que deveria percorrer todos os caminhos da América.

Enquanto a República da Bolívia comemora os 183 anos de sua independência, a Paróquia de N.S.de Copacabana do Rio de Janeiro celebra 100 anos de sua fundação. O nome de nossa mais famosa praia veio do país vizinho. Lá, Copacabana é uma cidade histórica e religiosa, onde os Incas cultuavam o Sol, a Lua e outras divindades, às margens do Lago Titicaca, a mais de três mil e oitocentos metros de altitude. O nome Copacabana é a versão latina de "Qopaqhawana", que quer dizer: "mirante do azul". A Senhora de Copacabana, esculpida por Francisco Tito Yupanqui, no século XVI, com feições de princesa Inca, desceu a cordilheira e veio surgir nas areias cariocas.

A Bolívia não é apenas o país onde nasce o gasoduto que alimenta casas e indústrias brasileiras com gás natural e o Brasil não é só Copacabana; Milton nascimento já cantou que “o Brasil não é só litoral, é muito mais que qualquer zona sul”. N.S. de Copacabana – como a Senhora de Guadalupe – é o símbolo de uma América, que sangra pelas “veias abertas” narradas por Eduardo Galeano, explorada e espoliada durante séculos por homens que aqui chegaram e por outros que aqui nasceram. Mas é também terra de valor, fecunda, rica e que guarda uma multiplicidade de gentes, de sabores, de artes, de sons. É poderosa, plena de vida, que pulsa no ritmo das danças desse povo moreno, de trajes despudoradamente coloridos. Colombo, que nunca pisou o continente, certamente os teria amado.

São povos que precisam reafirmar seu lugar na América – nuestra America, dizia Ernesto Che Guevara -, não para conquistar, competir, pressionar, mas para se irmanar. União, caro Evo Morales.

Voltando ao auditório da ABI, uma das músicas apresentadas pelo grupo Yampara foi Leño Verde, um alerta contra a devastação. O maestro Antonio Navarro lembrou que a Bolívia é um país que devota profundo respeito à natureza, possivelmente graças à simplicidade de seu povo e a seus ancestrais Incas. Que nos inspirem a também preservar nossa Terra Brasilis.

http://www.portugaldigital.com.br/noticia.kmf?cod=7582981&canal=159
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/maria.aspx?Data=5/8/2004&DiaMariaID=88
http://www.geocities.com/Heartland/Bluffs/6737/Copacabana/Copacabana.htm
http://www.youtube.com/watch?v=Z93I6sUBfaw&feature=related